domingo, 10 de maio de 2009

O ESCRAVISMO,PRETO NO BRANCO - EJA

O escravismo, preto no branco
Leia também• O Enigma de Zumbi
Tempo estimado• Duas aulas
Conteúdos• Escravismo, América e África portuguesas
Habilidades• Perceber os laços entre as capitanias do açúcar e a África, fornecedorade mão-de-obra escrava

Examine com os estudantes a história do quilombo dos Palmares e do Brasil Colonial, levando em conta os laços entre a América e a África portuguesas
A reportagem focaliza novas tendências na historiografia brasileira, segundo as quais o quilombo dos Palmares teria sido uma sociedade escravista. Os historiadores que sustentam essa tese analisaram revoltas escravas que ocorreram em outros lugares da América e da África. É um argumento em favor da perspectiva utilizada neste plano de aula: o exame da história do Brasil Colonial — considerando os laços entre a África e a América, respectivamente origem e destino dos escravos negros — e Portugal.
Liberdade Refugiada Quilombo do Tatu, na Bahia. Os demais redutos de africanos foragidos provavelmente tinham uma estrutura semelhante

Atividades1ª aula – Conte que o quilombo dos Palmares formou-se na primeira década do século XVII e só desapareceu em 1694. Peça que os alunos façam pesquisas para identificar alguns atores histórico-sociais desse período, especialmente a partir da década de 1630. Eles provavelmente vão destacar:
• os bandeirantes paulistas, que atacavam as missões jesuíticas meridionais e escravizavam milhares de indígenas;
• os administradores e colonos da América portuguesa, com importantes centros administrativos nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro;
• os administradores e colonos do Brasil holandês, governado desde 1637 por Maurício de Nassau;
• os habitantes do quilombo dos Palmares, que se expandia enquanto os holandeses e os luso-brasileiros lutavam entre si.
Chame a atenção para as profundas mudanças na década de 1640. A ruptura da chamada União Ibérica nesse período tornou mais difícil os ataques dos bandeirantes às missões jesuíticas, pois os nativos passaram a ser armados pelos espanhóis. No ano seguinte, os holandeses se apoderaram de Luanda, em Angola, um dos principais pólos do tráfico negreiro. Desde então, a mão-de-obra para as regiões produtoras de açúcar do Brasil holandês estava assegurada. A resposta luso-brasileira veio em 1648, com a reconquista de Luanda por uma expedição organizada no Rio de Janeiro por Salvador Correia de Sá e Benevides. O comércio de escravos retornava ao controle português.
Ensine que, nas décadas seguintes, diversos veteranos da “guerra brasílica” contra os holandeses, como André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira, lutaram na África, procurando apoderar-se de escravos e outras riquezas. No livro O Trato dos Viventes, o historiador Luiz Felipe de Alencastro identifica várias táticas das guerrilhas brasileiras utilizadas contra os reinos africanos: uso dos gibões paulistas acolchoados contra flechas, matula de mandioca e milho, marchas rápidas a pé descalço e destruição sistemática das roças nativas. É uma evidência do contato permanente entre a América e a África portuguesas pelo Atlântico Sul, continuamente cruzado pelos navios negreiros.
Na década de 1650, o Brasil holandês deixou de existir. Enquanto os “brasílicos” tentavam enriquecer na África, os bandeirantes, diante da crescente resistência dos nativos das áreas meridionais, dirigiram-se ao Nordeste, sendo contratados pelas autoridades para subjugar os índios da região. Foi o que aconteceu com Domingos Jorge Velho, que enfrentou os cariris do Ceará na década de 1670, muito antes de assumir a missão de destruir o quilombo dos Palmares. Depois, bandeirantes e luso-brasileiros na África escreviam à metrópole solicitando nomeações e favores pelos serviços prestados.
Proponha que os estudantes construam uma linha do tempo do século XVII, considerando os eventos mencionados nesta aula e na revista — do bandeirismo de preação à morte de Zumbi.
2ª aula – Não faltam personagens históricos mitificados. Isso talvez tenha acontecido com Zumbi dos Palmares — e com certeza ocorreu com o bandeirante que destruiu o maior dos quilombos.
Aproveitando a imagem de Domingos Jorge Velho estampada na reportagem, sugira à moçada uma releitura da obra do pintor santista Benedito Calixto. A pintura, produzida no início do século XX, enaltece a figura do herói e do desbravador paulista. Estimule os jovens a imaginar como de fato seriam os bandeirantes.
Explique que a visão romantizada do desbravador bandeirante teria surgido no final do século XIX e início do século XX, época em que São Paulo se firmava como um dos estados mais poderosos do país. Para as elites locais, era necessário desenvolver um mito que representasse sua hegemonia política e econômica. Sabe-se hoje que Domingos Jorge Velho era mameluco e que não usava as vestimentas nem portava as armas retratadas na pintura. Ele manejava o arco e a flecha dos nativos tão bem quanto o arcabuz. É provável também que mal soubesse o português: os paulistas da época falavam o tupi, a língua geral utilizada nessa parte do Brasil.
Outra figura emblemática romantizada é a da rainha Jinga, do reino angolano de Matamba. Ela resistiu bravamente aos portugueses com os temíveis guerreiros jagas, que lhe eram fiéis, mas que acabaram se aliando aos “brasílicos”. Durante muito tempo, a rainha Jinga foi ligada ao tráfico e à utilização de escravos em seu reino. Nessa época, foi retratada como uma das figuras mais perversas já vistas na África. Segundo o primeiro historiador angolano, Antonio de Oliveira Cadornega, além de infanticida e antropófaga, Jinga mantinha um harém de homens para seu deleite. Ao final da vida, converteu-se ao cristianismo e passou a ser tratada como fazedora de milagres. Hoje, a rainha angolana é lembrada pelo movimento negro, no mundo inteiro, como um símbolo da resistência africana ao domínio do branco europeu.
Lance alguns temas para debate: será que uma trajetória semelhante aconteceu no caso de Zumbi dos Palmares? É oportuno para o movimento negro conservar uma visão historicamente equivocada de um de seus ícones? Ou convém perceber o líder de Palmares como o inspirador de uma comunidade necessariamente submetida à influência de sociedades mais amplas, da América e da África, nas quais a escravidão predominava?
Veja Também
Bibliografia• O Trato dos Viventes, Luiz Felipe de Alencastro, Cia. das Letras, tel. 0800-142829
Plano proposto por Ricardo Barros, professor de História do Colégio Paulista, de São Paulo

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