segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Família em transição

Tempo estimado• Duas aulas
Conteúdos•Transição demográfica, urbanização e família
Habilidades• Estabelecer relações entre os processos de urbanização e transição demográfica e as mudanças em curso nos núcleos familiares

HaNuma conhecida canção, o grupo Titãs faz um comentário bem-humorado sobre os conflitos e contradições dos núcleos familiares tradicionais. Alguns versos de Família destacam a presença da “titia”, além do pai, mãe e filhos, que persistem no hábito de almoçar junto todo dia. Como mostra a reportagem de VEJA, rituais e situações como essas parecem estar com os dias contados, pelo menos para uma parcela das famílias brasileiras. Baseada em estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do IBGE e em relatos de psicólogos e terapeutas, o texto destaca um fato já bem conhecido em nossa realidade: a redução sumária do tamanho dos núcleos familiares e a revoada dos filhos assim que eles adquirem autonomia de voo. A canção da banda paulistana decretava que os pais só ajudariam a filha se ela saísse do lar para se casar, algo que também parece não ser suficiente para impedir o distanciamento ou ruptura dos laços familiares. Chame a moçada para uma conversa sobre o assunto e mostre o quanto ele está relacionado a grandes transformações sociais contemporâneas, como a instalação da vida em cidades e do modo de vida moderno.

Atividades1ª aula – Após a leitura da revista, peça que os alunos selecionem e organizem os dados sobre mudanças nas taxas de fertilidade, divórcios, taxas de urbanização e composição familiar no Brasil no século XX. Proponha, em seguida, que se organizem em grupos e façam um rápido levantamento nas respectivas famílias sobre número de filhos dos pais e avós, depois comparando os resultados entre si e com o restante da turma. É importante aferir como se estruturaram as relações que caracterizavam ou caracterizam os núcleos familiares (frequência de encontros, membros envolvidos etc). Vale a pena também saber as origens regionais ou nacionais das famílias dos estudantes. Eles poderão comparar os resultados com os dados apresentados na reportagem.
Peça que levantem hipóteses que ajudem a explicar as transformações em curso. Para ajudar, lance algumas questões: por que as famílias têm hoje menor número de filhos? Por que muitas delas abandonaram os laços tradicionais com os familiares? Na opinião da garotada, isso vale para qualquer região, grupo ou faixa de renda? Em que medida essas mudanças sociais e culturais vinculam-se às de caráter espacial?
Mostre, em primeiro lugar, que boa parte das mudanças retratadas relacionam-se ao processo que os especialistas caracterizam como transição demográfica brasileira. A exemplo do que já ocorreu em diversos países da Europa, nosso país vem assistindo à combinação da queda das taxas de fecundidade e do aumento da expectativa da vida, estreitando a base da pirâmide etária nacional e alargando o seu topo. Assinale que isso está associado ao processo de urbanização e à instalação do modo de vida urbano. Hoje, oito em cada dez brasileiros vive em cidades e a maior parte deles abdicou de ter um grande número de filhos, diferentemente do que ocorria no campo no tempo dos nossos avós e bisavós. Guardadas as proporções, o custo de reprodução social nas cidades é mais elevado, especialmente em função do surgimento de demandas que antes não existiam ou não eram valorizadas, como educação, saúde, transporte e lazer.
Além disso, houve uma mudança profunda no papel social da mulher, que se emancipou e ingressou no mercado de trabalho. A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE de 2007 mostrou o aumento espetacular (79%) do número de chefes de família do sexo feminino entre 1996 e 2006. A chefia do lar por mulheres pode estar ligada à separação de casais ou a famílias cujo pai é ausente. O IBGE aponta também que, embora tenha ocorrido o crescimento no número de casamentos de 2006 para 2007 em 3%, elevou-se também o número de dissoluções dos matrimônios. Assim, para cada quatro casamentos foi registrada uma separação. Foi constatado, ainda, um aumento nas separações entre os maiores de 60 anos. Com isso, não há reunião familiar que resista.
Esse quadro, obviamente, traz reflexos na composição tradicional da família, hoje muito distinta do núcleo familiar tradicional. É muito comum, por exemplo, encontrar homens e mulheres solteiros que vivem sozinhos ou dividem a casa com amigos. De outro lado, existem também famílias numerosas que, sob certas condições, formaram-se ou reagruparam-se por laços de solidariedade. Em metrópoles como São Paulo famílias numerosas de migrantes aumentaram de tamanho com a chegada de novos membros, dispostos a tentar uma nova vida na cidade. Assim, a composição familiar também é condicionada por fatores como renda, escolaridade e o tipo de inserção social da família e seus integrantes.


2ª aula - Proponha a seguinte questão para a moçada: além dos motivos já expostos, por que os laços familiares estão cada vez mais tênues e os encontros que reúnem as diferentes gerações, mais raros? Aqui, novamente, os olhos se voltam para as cidades e o modo de vida urbano. Antes, especialmente em zonas rurais, as pessoas experimentavam um cotidiano que implicava basicamente em relações do tipo comunitário. Em muitos casos, as famílias eram um cimento importante para esse tipo de relação. Nas cidades modernas, ao contrário, é possível estabelecer laços e relações com as mais diferentes pessoas. Ao mesmo tempo, indivíduos podem mover-se pela urbe e, de acordo com suas possibilidades, desfrutar de suas ofertas sem precisar prestar contas a ninguém – a clássica figura do anônimo na multidão. Já fazem parte da paisagem os casais com renda, mas que se abstêm de ter filhos para poder se dedicar a viagens, lazer e entretenimento ou a investir em sua formação pessoal. Mas aqui também é importante considerar os diferentes arranjos e recortes sociais em que os núcleos familiares se movem.
O tema poderá ser objeto de uma dissertação pelos estudantes. Proponha que, com base nos dados e discussões, escrevam a respeito da transição vivida pelas famílias, sem esquecer, é claro, daquelas que ainda preservam a macarronada ou churrasco de domingo – ou, ao menos, a ceia coletiva de Natal.bilidades•
Estabelecer relações entre os processos de urbanização e transição demográfica e as mudanças em curso nos núcleos familiares.
http://veja.abril.com.br/saladeaula


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